terça-feira, 7 de junho de 2011

MAIS UM EX-ALUNO ILUSTRE DO JÚLIA CATUNDA

JÚLIA CATUNDA:REMINISCÊNCIAS

Por ROBERTO MAGALHÃES FARIAS
Advogado
Fortaleza-Ceará

Era uma vez uma Escola que ficava no quintal da minha casa. Num tempo em que os alunos ainda se levantavam quando a professora, ou um visitante, entrava em sala. Dona Margarida Linhares, a Badinha; Dona Vera Lobo; Dona Conceição Paiva, a dona Pretinha; Dona Marli Mendonça, Dona Amélia e Dona Lourdes Mourão, estas foram as minhas mestras, do primeiro ao quinto anos do primeiro grau, hoje ensino fundamental.
         Na direção, não poderia esquecer a presença sempre imponente de dona Albetiza Lobo, e do nosso querido Dr. Paulo Furtado (marido de dona Betiza), que sempre cuidava de aparecer em sala quando um professor se atrasava, para refrear os ânimos da meninada mais rebelde. À tarde, a nossa querida tia Lourdes Benevides, a vice-diretora.
    Num tempo em que praticamente não havia televisão, as lindas histórias narradas pela professora Terezinha Parente embalaram os meus sonhos de criança. E se a história era muito longa, aguardava ansioso a parte final, que seria concluída na semana seguinte.
    Num tempo em que não havia lanche, nem livros, nem quadra de esporte, mas mesmo assim a “hora do recreio” era esperada com ansiedade. Bastava-nos o terreno estreito na lateral esquerda da escola e uma bola de plástico levada por um ou outro aluno. Eu era craque, podem acreditar. Foi daí que me deram o apelido de Roberto Batata, alusão a um grande atacante do Santos, no começo dos anos 70.
    A escassez dos recursos didáticos, contudo, não foi obstáculo para a conquista de sonhos maiores: o curso de graduação em Direito e depois pós-graduação e mestrado na Universidade Federal do Ceará. Empós, dediquei-me também por alguns anos ao magistério superior, numa faculdade de direito aqui em Fortaleza. Todavia, ainda acalento outros sonhos, como fazer um doutorado em Paris, visitar o Velho Continente, esquiar na neve (imaginem um matuto como eu pensando em esquiar: hehehe).
    Aos meus filhos, um já advogado e outro cursando Engenharia Civil na UFC, eu sempre lhes conto as agruras da vida e os fortes obstáculos que a miséria social nos obriga a superar. Afinal, foi para isso que Deus nos deu inteligência e sabedoria: transformar o mundo, e fazer da nossa vida uma busca incessante da ascensão social, intelectual e moral.
    No  Brasil, o grande impulso para essa transformação veio com a promulgação da Constituição Federal de 1988. Nela estão insculpidos todos os ideais do povo brasileiro. Cabe a nós, que somos efetivamente “o povo”, zelar para a realização, no mundo dos fatos, dos objetivos fundamentais consagrados no seu art. 3º: a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a garantia do desenvolvimento nacional, a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais, a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
    A mudança social se dá por uma educação crítica e libertadora, a única capaz de formar cidadãos honestos e conscientes, que começa em nossa casa e deve multiplicar-se nas escolas. A educação é o principal instrumento que nos capacita a transformar e participar ativamente do mundo da vida. Os jovens não podem desperdiçar os ensinamentos de seus mestres. É missão de todos – crianças, adolescentes e adultos – empenhar-se na consecução dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, os quais sintetizam, desde a Revolução Francesa de 1789, os ideais supremo de toda a humanidade.
    Para alcançá-los, cabe a nós, enquanto elementos constituintes do “povo”, cuidar para que o Estado brasileiro (vale dizer, os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário), cujo principal fundamento reside na dignidade da pessoa humana, direcione todas as suas atividades para a realização e concretização prática, no mundo da vida, dos direitos fundamentais e sociais enunciados nos arts. 5º e 6º (direitos individuais, direito ao trabalho, à educação, à previdência social etc), dentre outros, da Carta Magna de 1988.
    Saúdo e parabenizo a minha escola, nas pessoas de minhas antigas mestras, sabedor que hoje perpetuam essa bem-aventurada missão algumas de minhas ex-colegas, dentre elas minha irmã, a professora Rossana, a pedido de quem torno públicos os meus agradecimentos, e agradeço a oportunidade de remexer antigas lembranças da infância, já quase empoeiradas nas profundezas da memória.

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